Patricia Stanquevisch

Achei que seria mais doloroso. Daquelas coisas que causam um vazio. Algo do tipo não ter o que fazer no próximo dia. Afinal, foi um relacionamento de muitos anos, intenso, com muita troca, aprendizado, tristezas, dores. Mas não! Imediatamente, me senti uma pessoa leve. Livre, sem amarras. Que delícia. Dormi o resto do dia como se não houvesse culpa no mundo. 

Foi no dia 06 de novembro de 2016. Um mês ontem. O rompimento foi brusco, mas, há tempos, eu percebia que já havia acabado. O que ele me dava não fazia mais sentido para mim. Estávamos mais acostumados um com o outro, do que, de fato, num relacionamento sério de amor. Há alguns meses, eu estava pesquisando outras formas de me manter em Rede, sem a dependência dele. E não parecia haver outras possibilidades. Me enganei. 

Na primeira semana, descobri algumas coisas. Ele me fez dependente com outras relações que tenho. O Spotify, meu amigo incrível de noites e dias de amor pela música, foi o primeiro que me mostrou isso. Ao tentar entrar não consegui. Logo de cara ele me disse: você precisa do seu login do facebook para isso e sua conta foi desativada. Não me contive. Questionei. “Somos amigos há tanto tempo, você vai me deletar da sua vida porque me divorciei do facebook ? E todas as listas de músicas que criamos juntos, curtimos horas a fio ? Você vai jogar no lixo, tudo isso ?” Imediatamente o spotify reviu sua postura e reorganizou meu login novo, transportando todas as minhas listas para o novo espaço. Não, facebook. Não somos grudados.

E assim foi. Vieram outros aplicativos. Uber, pinterest, map.me. Tudo novo. Sem o grude me mantendo refém dele. 

Segundo estágio. A interação. Mudou. A qualidade. Meus conteúdos estão sendo lidos diretamente do blog ou pelo medium  e uma ótima comunicação no Instagram. Nossa relação pessoal acabou, querido facebook, mas podemos trabalhar juntos. Criei, então, a fanpage. Não interagimos, no nível pessoal. Só divulgação, conteúdo dos artigos. E muita gente nova chegando. 

E continuo viva. Sem ter que ler, diariamente, uma quantidade infinita de posts sem sentido. Uma guerra de quem sabe mais e pode menos. Ou a necessidade de atacar o outro que fez uma escolha diferente. 

Muitas vezes, nossa relação se baseava em passar o dedo na barra de rolar e baixar, baixar e baixar notícias no feed que não me satisfaziam mais. Pouco conteúdo interessante. Não há sexo bom que sustente. Saiba disso. 

Fora o mimimi de te bloqueio hoje, te desbloqueio amanhã. Depois bloqueio de novo. Não dava mais mesmo. “Eu procuro um amor que seja bom para mim, vou procurar, eu vou até o fim.”  E ele, facebook, não estava sendo bom para mim, daquele jeito. Eu sei que toda questão numa relação é co-emergente. Mas “tava” demais. Denso, sugador, vampiro da minha energia. E, eu sei meu lado nisso. Condescendente, dependente, querendo extrair o melhor da relação. Acreditando que poderia melhorar. Não deu.

Agora, deste jeito, tem sido fluído, porque na verdade, eu nem o vejo. Tem quem cuide disso por mim. Estamos nos purificando um do outro. Eu dou o meu melhor e ele o dele. Não somos o purê da batata. Misturados de um jeito que não sabemos dormir um sem o outro. Agora cada um é o legume que quiser. Meu spotify não depende do login criado por ele e nem os outros apps. Pode ser que exista algum resquício de sentimento ainda. Muitos anos de vício. De necessitar dele logo de manhã e uma última olhadinha quando ia dormir. Mas já me desintoxiquei. A ponto de conseguir falar sobre isso.

Facebook, espero que você siga sua vida, estou seguindo a minha. Foi eterno enquanto durou.  

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *