Patricia Stanquevisch

Escrito em 01 de março de 2015 no Facebook.

Minha essência está ligada à educação. De todas as formas. Sinto que quando se trata disso, a vida é plena. Com meus filhotes tudo flui neste sentido. Numa verdadeira cumplicidade pela autonomia de todos nós. E assim é. Autônomos, em nossa relação de mãe e filhos, compartilhamos de uma aventura em sermos singulares, porém unidos pelas nossas diferenças.

Normalmente é difícil eu explicar para alguém esta minha relação com os meninos. Porém, quem os conhece consegue perceber que os dois “seres humanos” que chamo de “amores” já são, na pouca idade (11 e 14), bastante donos de suas vidas e buscam em nós, papai e mamãe, orientação para o que não entendem ainda e, rapidamente, integram isso no dia-a-dia. 

Falam do que dói no coração, sem melindres, sem medo de nada. Apenas com o propósito de evoluírem na questão. 

Claro que acho que eles vieram prontos e que eu e o pai deles simplesmente não estragamos isso… ou estragamos só um pouquinho. 

E aí entra a escola. Foi um parto escolher a escola para eles. Afinal, ser mãe deste jeito, querendo que eles sejam livres, autônomos não é fácil. Requer uma certa dose de trabalho extra. E não seria uma escola que ia atrapalhar isso, né ?

E me lembro de um dia o pai deles dizer: “nossos filhos não vão para a escola, pq nada está bom para vc.” Mas ó… vc entra na escola e pergunta para a coordenadora – quando é que me filho vai aprender a ler ? Ela responde que desde os 3/4 anos isso já começará a acontecer !! Aff Aff Aff… Pior ainda é quando a pessoa me dizia que, com certeza, eles entrariam numa ótima universidade !! Eu nem continuava a conversa. Levantava e ia embora, mesmo. Eu lá queria saber que meus filhos de 5 e 2 anos iam um dia entrar na Universidade ?? Bem eu que achava o mais genial da vida era poder escolher ser mochileiro ?? Não, né ?? Então deu um certo trabalho achar uma escola. Mas achei. E estão lá ainda, no mesmo colégio. Para um dos filhos acho que ainda serve este modelo. Pq ele está feliz assim e constrói o que quer lá dentro. Para o outro já não vejo assim, pois ele tem outro temperamento. Mas, enfim… estamos andando conforme conseguimos fluir nestas escolhas de estar ou não dentro de uma instituição escolar.

Mas minha conversa sobre isso é pq comecei a pensar, há anos atrás, na responsabilidade (leia-se responsabilidade = habilidade de responder às situações) de um educador com relação às crenças pessoais, em suas dores de vida, em suas relações de forma geral e no quanto isso influenciava sua prática profissional. E passei a observar. Tanto em minhas aulas com futuros profissionais da educação (eu fui professora universitária por muito tempo, para alunos de educação física) quanto com o que meus filhos traziam sobre seus professores nas aulas. 

Passou a ser uma observação com bastante cuidado. Um olhar com cara de estudo independente. E achei que sim, era importante o educador cuidar de suas questões interiores para que sua prática profissional fosse mais leve para ele e para os alunos. E pensei no quanto não é fácil isso. São muitas coisas envolvidas. Mas a educação está num movimento de transformação bastante forte. Muitos questionamentos começaram a emergir. Sobre os modelos, os conteúdos, o formato da escola. E olhar para a prática profissional faz parte disso.

Só que evoluir nisso, no meu entender, não é só instrumentalizar o professor, com novos conteúdos, metodologias de aula, tecnologia, entre inúmeras possibilidades que vão surgindo para que ele se torne “melhor” profissional. Minha opinião é de que é preciso cuidar da transformação interior, também. Auxiliar este ator a se conectar com sua essência, compreender crenças de sua geração e se abrir para esta nova criançada que tem muito mais a ensinar do que se pensa. 

Ontem, fiz um Jogo da Transformação com este foco. Cada um escolheu um propósito que trouxesse uma transformação que, apesar de pessoal, ampliasse o nível de consciência para uma melhor atuação.  O jogo me trouxe muito informação do que pode ser feito neste sentido. Os participantes estavam abertos a olhar para suas relações de família, de casamento, de expectativas da sociedade. Uma abertura para se conectar além do conhecimento adquirido numa formação universitária. Coragem de perceber limitações e mais que isso, de assumir suas qualidades escondidas atrás de um automatismo adquirido pelo tempo. Foi lindo e profundo. 

E acho que tem trabalho para acontecer nesta área. Só precisamos desta disponibilidade por parte do professor/educador. Mãe e pai entra neste pacote. E me encanta olhar para esta possibilidade. Tanto como facilitadora do processo quanto como aprendiz de mais e mais mudanças que estão por vir. 

Se ele que era ele já queria, pq não nós ? 

“Eu quero desaprender para aprender de novo.

Raspar as tintas com que me pintaram.
Desencaixotar emoções, recuperar sentidos.” Rubem Alves.


Patrícia Ribeiro

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *